quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Slipknot faz show insano no Rock In Rio

Há algum tempo atrás quando o nome Slipknot apareceu como um dos principais a figurar no dia heavy metal do festival Rock in Rio 4, havia uma certa desconfiança no ar, por conta da morte de um dos fundadores da banda, o baixista Paul Gray; o tempo que ficaram na geladeira gerando a dúvida sobre continuidade da banda e a proposta sonora ser um tanto quanto diferente da velha escola Motörhead e Metallica.

Chegado o dia do festival outra indagação começou a pipocar: Slipknot tocando depois do trio mais pesado e sujo do Motörhead? Pelo menos para esse redator que vos fala gerou certa desconfiança, até descrença, sobre o poderio sonoro dos americanos, a qualidade de sua apresentação e a capacidade da banda em segurar a bronca de abrir para a vanguarda do thrash metal, o Metallica. Afinal, o som praticado pela banda tem como foco o público mais jovem, se preferir os adolescentes pseudo-revoltados, onde a idéia de odiar tudo e todos é sempre a bola da vez.

E como é bom dizer: minhas previsões estavam equivocadas do começo ao fim. O Slipknot trouxe, sem a menor dúvida, o show mais brutal de todo festival e conseguiu a atenção do público do primeiro ao último acorde. Inclusive do público que, digamos, já tem bons anos na longa estrada do rock n’ roll. A insanidade instaurada no palco pelos mascarados era refletida aos fãs, que por sua vez a potencializava e devolvia à banda em forma de insanos mosh pits, punhos cerrados ao ar e muitos, mas muitos, urros na tentativa de superar a desgraceira vinda do palco.
Em uma briga digna aos grandes titãs, banda e público fizeram bonito pela bacana cumplicidade e respeito entre as partes. E por falar no melindroso assunto respeito, mesmo num show em que a pista mais parecia arena de gladiadores, visto tamanha agitação e brutalidade da galera, o respeito e amizade falavam tão alto quanto o som vindo dos PA’s, indo de encontro às previsões e impressões vendidas pelos mais desinformados.


Ornamentado numa produção interessante, com direito a labaredas de fogo; telão com imagens destorcidas, às vezes sem nexo algum, em meio ao logo da banda; diversas estacas com o a letra ‘S’ personalizada fincadas pelo cenário; percussão que tem seu tablado elevado em determinados momentos do show e a bateria que se coloca na vertical para o delírio dos fãs, os americanos conseguiram a ambiência perfeita para seu caos, ou melhor, para sua música.

Não é segredo que o Slipknot não tem lá uma discografia robusta, com inúmeros álbuns de estúdio, mas nos quatro discos lançados pela banda há material suficiente para fabricação de uma bomba sonora de proporção catastrófica. E, acredite amigo, isso foi mais que provado no último domingo (25).

Do primeiro álbum vieram aberrações sonoras do teor de “(Sic)”, “Eyeless”, “Liberate”, “Surfacing” e as mega conhecidas “Wait to Bleed” e “Spit It Out”. Vale acrescentar que essas duas últimas canções citadas foram o cartão de visitas da banda no começo de carreira, e por muito tempo foram referência musical do até então pouco conhecido nome Slipknot, sendo assim, são as responsáveis pelo holofote na carreira dos músicos. E como o peso das canções incita. A recepção não poderia ser diferente do caos estabelecido pelos fãs.

“Disasterpiece”, “People=Shit” e “The Heretic Anthem” beberam muito da fonte death metal, e vêem representando o álbum, “Iowa”. Como era de se esperar, a performance agressiva dos caipiras de Iowa manteve o clima do show em temperatura elevadíssima, mas por trás da grossa camada de agressividade e presença de palco insana, os músicos se defendem com nível técnico acima da média, tendo destaque para o ‘baixinho’ baterista Joey Jordison e o vocalista Corey Taylor. Como esse rapaz canta...

Em uma comparação irresponsável ao material escrito pelos americanos, as canções “Before I Forget”, “Duality” e “Psychosocial” podem ser taxadas como os momentos mais acessíveis do repertório, onde há um flerte com vocais limpos, mas, tampouco, é sinônimo de ‘moleza’ aos fãs. O peso só está embrulhado numa forma mais amena aos ouvidos mais sensíveis.

E sem medo algum de errar ou fazer previsões sem pé ou cabeça, como alguns supostos gurus o fazem, afirmo que o Slipknot fez o show mais brutal de todo o festival, e olha que ainda faltam alguns dias de festival para rolar, com apresentações do calibre e peso de System of a Down, sendo a única banda do ‘cast’ do festival que pode tentar chegar perto da desorientação sonora produzida pelo Slipknot. E reitero o quão feliz fiquei de ver minhas equivocadas previsões caindo por terra. Digo mais. Espero que a insanidade, que também atende pela alcunha de Slipknot, volte o quanto antes aos palcos brasileiros e traga de volta esse tão bem vindo circos dos horrores.

Nota: Fiz a matéria para o veículo Território da Música: http://www.territoriodamusica.com/rockinrio/?c=27053

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Metallica: Live in Rock in Rio


É fato que o Metallica sempre foi uma banda pra lá de importante para o cenário metálico, mas por contas de algumas escorregadelas na carreira a banda deixou arranhar parte de sua reputação, perdendo pelo caminho alguns seguidores. Mas como dizem: com o tempo tudo se resolve. Com a entrada do baixista Robert Trujillo e o lançamento do bacana “Death Magnetic”, a banda deu um tapa de luva naqueles que já a taxavam como navio naufragado e o sucesso do álbum só serviu para trazer de volta o velho orgulho, paixão e glória dos fãs pela banda.

Embalada nessa mesma onda de sucesso das últimas turnês, a instituição Metallica ficou com a responsabilidade de encerrar o único dia verdadeiramente rock ’n roll do festival Rock in Rio 4, que ainda contou excelentes apresentações dos americanos do Slipknot e os mais rápidos e sujos do velho oeste do maravilhoso Motörhead.

E por falar em velho oeste, a película “The Good, The Bad and The Ugly” e a emocionante trilha, “The Ectasy of Gold”, de Ennio Morricone, é o prenuncio que a festa thrash está para começar. Seguindo a cartilha da ultima turnê, a pedrada “Creeping Death” é a mais perfeita abre alas da noite, e do mesmo álbum, “Ride the Lightning”, a ‘heavy’, “For Whom the Bells Tolls”, já dava a certeza que o último Domingo (25), ficará marcada na memória dos mais de cem mil fãs da instituição thrash.

Com inteligência os músicos deram pouca atenção à época mais duvidosa da banda, a energética “Fuel”, sendo um dos poucos bons momentos de tal período, mantém o clima da festa em alta. Depois de feitas as honras da casa e expressado o quão a banda estava feliz por voltar aos palcos cariocas, o clima de festa é elevado à estratosfera com a música homônima ao álbum citado, “Ride the Lighting”. Desnecessário enfatizar que os ânimos dos entusiastas pelo velho e bom thrash metal são exaltados em momentos como esse, aonde toda essência do estilo vem à tona sob a forma desse clássico.

Parece papo de gente velha que cheira naftalina, quando não a mofo, mas sempre comento o quão benigno a idade ou maturidade é para todos nós. E mais uma boa prova disso é o vocalista, James Hetfield. James está hoje mais comunicativo, consegue conduzir à apresentação da banda com maior desenvoltura, saindo do piloto automático ou daquelas burocráticas cartilhas que bandas e músicos inexperientes decoram de cor e salteado. Tal desenvoltura e comunicação são responsáveis pela boa característica intimista com músicos e fãs se sentido á vontade, refletindo mais que positivamente na dinâmica dos shows.

Não pense você que a euforia tenha sido abalada pela calma e emoção de “Fade to Black”. Muito pelo contrário. A canção registrou um dos melhores momentos da noite, com mais de cem mil vozes no coro de cada melodia. Fato curioso na execução da canção fora o erro bobo e até engraçado do vocalista/guitarrista James quando sua guitarra o traiu com uma ‘completa falta de peso’ - faltou distorção na guitarra - numa importante interseção da música. Fato ironizado depois da canção pelo próprio músico, repetindo o erro e complementando: bem pesado assim, hein?
Algo que vale comentar é a produção de palco da banda e o sistema de som. Diferente da horrenda qualidade de som que as bandas brasileiras tiveram de lidar no palco Sunset, o Metallica teve ao seu dispor um dos melhores sistemas de som já vistos, ou melhor, escutados pelas bandas de cá, com todos os instrumentos equalizados de forma assustadoramente alta e cristalina. Já a produção de palco é a mesma usada na última turnê por aqui, em 2010, e a mesma apresentada no DVD “Orgulho, Paixão e Glória”, com fogos artifícios, explosões e labaredas de fogo. Nada que vá deixar o pessoal do Kiss com inveja, mas bem bacana e, com certeza, abrilhantou ainda mais a noite da consagração metal no Rock in Rio.

Com a boa idéia de mudar parte do repertório a cada apresentação, a banda consegue dar um caráter único a cada vez que pisa num palco. E como é de se esperar não faltam bons momentos no ‘setlist’ dos americanos, as novas e longas “Cyanide” e “All Nightmare Long” se juntam às velhas conhecidas como a pesada “Sad But True”, a delicada “Nothing Else Matters” e o pesadelo em forma de música, “Enter Sadman”. As boas surpresas da noite ficaram por conta da instrumental “Orion”, que muito nos fez lembrar o saudoso baixista Cliff Burton, a urgência da rápida “Whiplash” e o cover da banda inglesa Diamond Head, “Am I Evil”.
A certeza que o Metallica fez questão de transparecer aos seus fãs é que a banda está num excelente momento, arrisco dizer que seja até o melhor com a carreira mais que consolidada e músicos experientes certos de qual caminho a seguir. O show apresentado na noite do terceiro dia de Rock in Rio 4, domingo (25), foi prova disso e, com certeza, estará no registro dos melhores momentos da história do festival. Tenho certeza que a maratona de shows e o dia fora pra lá de cansativo, mas o presente de ver a voz do Tharsh Metal, Metallica, em alto e bom som é algo que ficará registrado nos corações de todos.

Nota: Fiz a matéria para o site Território da Música: http://www.territoriodamusica.com/rockinrio/?c=27040

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Judas Priest & Whitesnake: Live, Loud and Heavy (Rio de Janeiro)

No ditado popular é falado, e quase provado, que raio nunca dá o ar da graça duas vezes no mesmo lugar, mas tal afirmação foi por terra no último domingo, dia 11. Digo isso para os desavisados ou para quem passou os últimos tempos em Marte e não sabe que Whitesnake e Judas Priest fizeram uma turnê conjunta por aqui em 2005, e que foi um dos shows mais interessantes daquele ano no País.

E como a dobradinha deu o que falar na primeira visita, nessa segunda dose não poderia ser diferente com o Whitesnake defendendo o novo álbum, o “Forevermore”, e o Judas Priest no intento da “Epitaph Tour” que os integrantes juram de pé junto ser a despedida da banda dos grandes palcos e longas turnês.

Whitesnake


A festa começou com o pessoal do Whitesnake na responsabilidade de fazer o ‘esquenta’ da noite e levar para bem longe qualquer ameaça de frio. Em quase uma hora e meia de show, a banda desfilou 11 canções, sendo algumas delas o bê-á-bá do hard rock, ou seja, a diversão era a principal certeza da noite.

É fato que hoje o vocalista David Coverdale, perto dos seus 60 anos, não consegue manter o registro alto como em tempos atrás e sua voz mostra sinal de cansaço. Mas com esperteza, o chefão da banda CobraBranca colocou os holofotes na década de 1980, onde estão seus discos multiplatinados; as canções de maior destaque e apelo comercial e, lógico, onde está a certeza da participação do público.

Com o álbum “Whitenake” (1987) Coverdale & Cia arrancaram suspiros das moçoilas com a açucarada “Is This Love”; assim como em “Here Go Again” e “Still Of The Night” que são em essência canções pra lá de adocicadas só que embrulhadas numa pegada mais energética. “Give Me All Your Love” fez muito marmanjo rememorar as propagandas de cigarro. Os álbuns “Slide It In” e “Good to be Bad” mostraram suas garras com “Love Ain’t No Stranger e “Best Years”, respectivamente. E não pense que o novo disco ficou esquecido ou renegado a papel de coadjuvante. “Steal Your Heart Away”, “Love Will Set You Free” e “Forevermore” mostraram que mesmo se apoiando na muleta da breguice com temas de amores incondicionais a banda consegue fazer render o assunto e criar canções até legais.

Não é novidade para ninguém que Coverdale sempre fez questão de trazer para seu lado músicos gabaritados e com grande experiência, mas nunca é tarde para lembrá-lo que é chato pacas solos individuais, salvo, claro, em raras exceções. Os momentos ‘esfria’ ficaram por conta do suposto duelo entre os guitarristas Reb Beach e Doug Aldrich e o solo de bateria de Brian Tichy - completa a banda o baixista Brian Ruedy e o tecladista Brian Rudey. Não há segredo também que esses momentos são para tio David repousar o gogó, mas cá entre nós: bem que poderia ter tocado duas músicas no lugar desses solos individuais, não é?

“Soldier of Fortune”, cover do Deep Purple, é cantada à capela arrebatando os corações sensíveis, mas a canção do Purple que fez o caldo voltar a entornar foi a ótima e esperada, “Burn”. E com direito ao ‘insert’ de “Stormbringer”, encerrando de forma satisfatória a parte hard rock do domingo.

Judas Priest


Com um repertório de 21 canções, o Judas Priest deu uma pincelada em grande parte de sua discografia, relembrando desde o primeiro registro, “Rocka Rolla” (1974), até ao mais recente, o conceitual “Nostradamus” (2008). Como esta turnê será, pelo menos em teoria, a última grande excursão da banda, os músicos não fizeram por menos, e trouxeram uma boa produção de palco, com direito a lasers, labaredas de fogo, jatos de fumaça, correntes, telão e backdrop referente à canção e o cantor Rob Halford incorporando as divas pop numa incessante troca de modelitos.

Parece uma coisa tola, mas funciona de verdade. Para saber se um show foi bacana, é só reparar se você esqueceu a existência de seu celular ou algum outro brinquedinho eletrônico que você carrega para cima e para baixo. Se a resposta foi positiva, você esqueceu esses pertences, tenha certeza que a banda fisgou pra valer sua atenção. E a apresentação dos britânicos foi tão boa assim: mais de duras horas de show que passaram como num piscar de olhos.

Num ‘catadão’ de toda carreira vieram temas indispensáveis como a maravilhosa “Victim of Changes”; “Hell Bent for Leather” com direito entrada da motocicleta; a indefectível “The Hellion/Electric Eye” e a grata homenagem ao Brasil em “You’ve Got Another Thing Coming” com o cantor enrolado à bandeira nacional. Poucas canções carregam consigo teor 100% heavy metal, mas “Painkiller” parece superar esse número, passando a ser, se não, melhor definição do estilo. Do mesmo álbum, “Painkiller, “Night Crawler” é certeira com seu clima soturno e pesado. Vale comentar a boa sacada da banda em expor no telão a capa do álbum respectivo à canção, além de algumas explicações mais detalhadas do vocalista, Rob Halford, situando no tempo e espaço os não muito afoitos pela banda.

Não faltam predicados para o álbum “British Steel”, afinal, foi um dos influenciadores / motivadores do movimento NWOBHM, mas talvez a principal de todas suas virtudes resida no fato do disco ser um dos pilares do rock pesado. Não há dúvida que poucas bandas / álbuns chegam a tal patamar. A contra-lei “Breaking the Law”; a festiva “Living After Midnight” unem forces à “Metal Gods” e “Rapid Fire”, e assim criam a tempestade perfeita com público cantando cada verso.

Infelizmente a reticência ao show foi a ausência de K.K. Downing, que numa crise existencial a lá pseudo-estrelas pops, abandonou o barco nos 45 do segundo tempo. Seu substituto, Richie Faulkner, fez o dever de casa e toca cada linha escrita pelos mestres Downing e Glenn Tipton. Mas fica a pulga atrás da orelha: porque escolher o reserva se o titular era com sobras melhor? É bom deixar claro, mais uma vez, que Faulkner não depreciou a apresentação da entidade metaleira, mas o brilhantismo da formação mais importante da banda foi arranhado - completa a banda o baterista Scott Travis e o baixista Ian Hill.

A noite pode ter sido cansativa para muitos que tinham que madrugar no dia seguinte e ir para o trabalho, mas a sensação e o sorriso no rosto provava que tinha valido cada centavo e tempo investido. Aguardamos ansiosamente que muitos raios do calibre de Whitesnake e Judas Priest dêem o ar da graça pelas bandas de cá, e nesse caso, torcemos para sermos atingidos em cheio.

Nota: Fiz essa para o site Território da Música. http://www.territoriodamusica.com/rockonline/shows/?c=1107

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Blind Guardian: At the Edge of Latin America ( Rio de Janeiro - Brasil)


Fazer comparações ou pautar um assunto usando de referência outro é quase sempre uma cilada. Pode haver distorções do real sentido daquela comparação e a probabilidade de falar besteira é bem grande. Mas como o bom é cutucar a onça com vara curta, cá estou indo ao encontro das probabilidades e possíveis distorções.

Assistir um show dos alemães do Blind Guardian é como assistir um jogo amistoso de uma seleção, apenas uma absurda falta de bom senso pode vir colocar todo trabalho por terra. Com a banda alemã a engrenagem é a mesma. É subir no palco, deixar brilhar o talento individual e não cometer a insensatez de estruturar um repertório cansativo... e voilà: um show que agradará todos os fãs.

E foi como esse bom senso que a banda subiu ao palco da Fundição Progresso na noite do último Domingo. Divulgando o já não tão novo, “At the Edge of Time”, a banda mostrou que - para o bem ou mal - ainda é uma referência no, hoje, combalido ‘power metal’ germânico.

Com um atraso de mais de meia hora do horário programado, 21h00, “Sacred Worlds” é a escolhida para começar a ‘ode’ à cavaleiros, guerreiros e às obras de J. R. Tolkien. A canção é o DNA da banda com orquestrações aliada a passagens pesadas e boas harmonias vocais.

Sempre muito gentil com a platéia o vocalista, Hansi Kürsch, dá boas vindas e convida todos a uma viagem ao tempo, no ano de 1990, com a canção “Welcome to Dying”. “Nightfall” dá continuidade ao show com sua melodia certeira e refrão simples, porém, para lá de convidativo, o que não pode ser dito da única representante do álbum “A Twist in the Myth”, “Fly”. A canção não é execrável, mas é fato que a banda tem em sua discografia músicas de maior expressão e apelo. Não custava relembrar os bons momentos como em “Bright Eyes”.



Como é dito na gíria policial: a casa caiu mesmo quando Hansi, sempre comunicativo, apresenta a próxima canção, baseada no livro “O Silmarillion” e que conta a batalha entre rei Fingolfin e o senhor do escuridão Morgoth, “Time Stands Still (At the Iron Hill)”. Por ser uma das canções mais importantes da banda, a recepção foi pra lá de calorosa. “Traveler in Time” ganha suspiros entusiasmados do público, mas é prejudicada por um áudio embolado. A qualidade de som em toda apresentação oscilava em ora alto e nítido e ora uma massa sonora de difícil compreensão.

“Agora é hora de nos acalmarmos um pouco”, diz o vocalista. Ledo engano, Hansi. “Mordred’s Song” nunca foi um momento calmo nas apresentações da banda, muito pelo contrário, a canção sempre foi acompanhada de muita euforia por parte do público. O novo álbum volta representado pela empolgante, “Tanelorn (Into the Void).

Vale ressaltar que o novo disco, “At the Edge of Time”, é bem similar aos trabalhos da banda nos anos 1990. E talvez o melhor desde “Nightfall in Middle-Earth” (1998). Lógico que são épocas diferentes; a banda está, hoje, com outra formação e a experiência conta a favor de um trabalho maduro e bem dosado. Mas é fato que os alemães quiseram rememorar as glórias vividas no passado, trazendo ao novo trabalho canções de maior qualidade e equiparadas ao que a banda já realizou de bem feito. Sem pestanejar, conseguiram com sobras.

Se alguém nunca escutou o som da banda e tiver em dúvida por onde começar, a trinca “Lord of the Rings”, “Valhalla” e “Imaginations from the Other Side” é um ótimo começo. Nessas canções estão contidas todas facetas - ou grande parte delas - que a banda faz questão de impregnar sua obra. A primeira etapa do show foi concluída da forma mais apropriada e em grande estilo com público catando cada verso das músicas citadas.

Na volta ao palco, “Wheel of Time” não consegue agregar muito ao saldo positivo da noite, deixando a responsabilidade de cativar o público nas mãos, ou nos versos, da insubstituível, “The Bard’s Song (In the Forest)”. Nem o fã mais viking da banda conseguiu ficar imune à suavidade e delicadeza da canção, levando alguns desses “inabaláveis guerreiros” às lágrimas.

E se até esse momento do show alguém tivesse colocando em cheque o poderio sonoro da banda, tal dúvida certamente foi desintegrada pela avalanche chamada “Mirror Mirror”. Sem dúvida a canção está na seleta categoria de ser referência. E acredite amigo, são para pouquíssimas canções e bandas essa honraria. E esse seria o final da apresentação dos alemães nas terras cariocas. Mas com os incessantes pedidos do público, só ficou no seria mesmo. “Majesty”, sim, é a cereja que faltava no bolo, na festa e na celebração dos bardos.

Como foi comentado no começo da matéria, o Blind Guardian é o tipo de banda que entra em campo, ou palco, com o jogo ganho. Só uma completa irresponsabilidade e falta de bom senso de seus integrantes para colocar o resultado da partida em risco. Vida longa aos ‘trovadores’ alemães.

Nota: Fiz essa matéria para site Territorio da Música. http://www.territoriodamusica.com/rockonline/shows/?c=1104

sábado, 3 de setembro de 2011

After Forever: DeEnergize



Depois de 12 anos de carreira, com uma discografia de nove discos (contando as duas primeiras demos: Ephemeral (1999) e Wings of Illusion (1999)) a banda holandesa, After Forever, decretou o fim das atividades. A banda composta por Floor Jansen (vocal), Sander Gommans (guitarra), Joost van de Broek (teclado), Bas Maas (guitarra), André Borgman (bateria) e Luuk van Gerven (baixo), havia comunicado uma pausa nas atividades no início do ano de 2008, mas o tempo dado para aparar as arestas e resolver os conflitos não foi o suficiente para solver todos os problemas internos da banda, forçando o líder, e principal compositor, a decretar o fim das atividades.

Bem antes de tal decisão, a banda After Forever lançou o melhor disco de toda carreira, sendo muito bem recebido pelos fãs e crítica. O álbum marca estreia do grupo holand
ês em uma das maiores gravadoras voltadas ao segmento Heavy Metal - Nuclear Blast, e recebe nome homônimo à banda.

Fazendo um retrospecto dos álbuns lançados pela banda, é nítida a evolução, o grau de comprometimento em estar superando os limites, a busca pela excelência e a forma de agregar, em harmonia, todas as diferentes personalidades e experiências de seus integrantes, formand
o, assim, uma força única com o objetivo de fazer arte. Com isso lançam discos experimentais como os dois primeiros da carreira - Prison Of Desire e Decipher - sendo um grande passo para moldar sua identidade, sempre conduzindo e orientando a carreira, na qualidade das composições. O terceiro álbum - Invisible Circles - traz um conceito complexo e uma acentuada influência progressiva. Em Remagine a abordagem das composições foi concebida de forma diferente de seu antecessor, a estratégia adotada foi menos é mais tomando uma forma básica de suas estruturas. E, por fim, After Forever, o último álbum lançado pela banda, que pode ser considerado a unidade de todos os álbuns antes lançados. Mas não soando de forma datada e preguiçosa, mas, sim, reinventados e modernos. Fazendo jus à máxima que sempre norteou a banda: evolução.

O After Forever conta com dois principais compositores Sande
r Gommans e Joost van den Broek (Joost pode ser considerado o ‘novo membro’ da banda, gravou apenas os dois últimos álbuns Remagine e After Forever). A bela Floor Jansen é responsável pelas letras. O disco começa com maravilhosa "Discord", com uma pegada bem cadenciada, alternando vocais de Sander Gommans e os de Floor Jansen, ainda tendo uma orquestra dando toda uma pompa à música.

“Tão selvagem, tão bela e pura...” essa frase faz parte da primeira estrofe da segunda faixa "Evoke". De uma maneira não intencional, essas palavras conseguem resumir toda emoção transmitida por essa canção, com melodias intensas e refrão cativante. "Evoke" era sempre um bom momento no set list da banda. Já "Transitory" é um problema sério. Uma das melhores musicas já feita pela banda. Um petardo! Impossível não torturar os pescoços ouvindo esse som, o peso e pegada estão presentes nas medidas certas, há flertes dos vocais ‘demoníacos’ de Sander e os singelos de Floor.

"Energize Me" é o primeiro single retirado do álbum, uma ca
nção simples, mas que funciona muito bem com sua melodia e refrão, tem um breve mas eficiente solo de Bas. Acertaram mais uma vez na escolha do single (foi o primeiro e único vídeo clipe oficial do álbum). A próxima é a "Equally Destructive", que expõe a preocupação da banda com os acontecimentos e catástrofes ao redor do mundo! A vocalista Floor Jansen se destaca como uma grande letrista, escrevendo com muita propriedade e desenvoltura temas como meio-ambiente; cotidiano; relacionamento etc. Não há um número substancial de bons letristas que tenha tato para abordar temas complexos, sem ser enfadonho e inoportuno, a banda After Forever tinha esse trunfo e o soube usar com muita propriedade.

A canção "Equally Destructive" não foi escrita com a pretensão de moralizar a sociedade, tampouco como trilha sonora para engajamento ambiental. E, sim, com uma grande observação sobre o meio que vivemos e como nos relacionamos. "Withering Time" tem peso, vocal gutural, melodias marcantes, corais e, lógico, a excelente performance da Jansen.

A primeira participação especial do disco está em "De-Energized", trazendo Jeff Waters - Annihilator, proporcionando mais pesado à canção. As linhas de guitarra, guiada pelo competente Jeff, ganham um brilho maior, os vocais operisticos da senhorita Jansen fazem presença, alternando com o caos causado pelo potente vocal de Sander. O momento mais intimista do disco vem com a balada "Cry with a Smile. Destaque para letra, constituindo num sopro de esperança, às experiências ruins c
om as quais todos nós convivemos. A delicadeza na interpretação da vocalista, com certeza consegue cativar e sensibilizar o ouvinte.

"Envision" é uma música que me chamou atenção desde a primeira audição, por os ingredientes bpasicos em boa canção como letra legal, um refrão de dar inveja a muita banda e um vocal bem dosado de emoção e interpretação. A segunda participação especial está em "Who I am", a veterana Doro Pesh (Doro ex - Warlock) deu o ar da graça. A voz, da cantora é inconfundível e irreparável. A simbiose gerada entre os talentos individuais: Doro Pesh e Floor Jansen é incrível. A composição ainda possui uma forte influência de ‘metal industrial’, dando um quê intenso e moderno ao som. "Dreamflight" é a música mais longa e complexa do disco, mas nem por isso é chata ou presunçosa. Ela alterna vocais de Floor, Sander e Bas; aposta em interessantes orquestrações; muitos arranjos de cordas e completada com uma atmosfera suave e outrora agressiva.

E, para finalizar o álbum, tem a "Empty Memories". Não é um som “heavy”, embora consiga cativar e fechar muito bem o melhor disco já feito pelo After Forever e, como, emolumento, a bela Amanda Somerville mostra seu talento em uma boa parceira com Floor Jansen.

O After Forever alcançou nesse quinto trabalho de estúdio uma maturidade e evolução pouco encontradas no mercado, com composições de muita qualidade e muita desenvoltura na abordagem de suas letras. Infelizmente a banda encerrou as atividades, mas fica registrado o legado de uma das melhores bandas do Gothic Metal. Sempre tendo uma postura pró-ativa, conseguiu levar sua mensagem aos quatro cantos do mundo, passando de uma promessa e ou incógnita, à expoente no segmento onde propôs atuar. Se dedicando 100%, mostrou ao mundo, com muita propriedade, sua arte.


Nota: Fiz a matéria para o site novometal, em 2009