quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Rock in Rio 2011: Você foi?

Se fossemos fazer uma vistoria na história com intuito de checar ou estruturar uma árvore genealógica dos primeiros festivais musicais, ou como se começou essa prática, teríamos que levar em consideração a época em que os artistas tinham o caráter nômade, ou seja, se apresentavam de maneira independente em praças ou mesmo em campos comerciais de uma determinada cidade. Valendo-se da oportunidade de compartilhar experiências com outros artistas; mostrar sua arte a um número considerável de pessoas e com boas doses de habilidade e mais um tanto sorte conseguir cativar a platéia ganhando alguns trocados.

Tal qual a dramaturgia esses “pequenos festivais” serviam como uma rápida maneira de proclamar as respectivas ideologias dos artistas. O que pouco se distingue dos dias atuais, mantendo viva a expressão e a força das apresentações e emoções dos artistas. Na jurisdição do velho rock n’ roll, a história começou a ser escrita na década de 1960, quando o festival, Monterey Pop Festival, se fez valer como o primeiro festival do estilo. Todavia alguns festivais brigam pelo título de pioneiro ou mesmo se sentem com uma pontinha de ciúme do “irmão” mais velho. Mas é fato que Monterey Pop Festival fez a alegria da moçada muito antes de festivais como Woodstock sair do papel.

Muitos foram os festivais que nasceram e morreram, desde então. Os maiores destaques ficam por conta do já citado Woodstock, que ganhou mais duas edições em 1994 e 1999; o festival Live Aid (1985) que foi idealizado pelo cantor irlandês Bob Geldof para levantar fundos em prol da população da Etiópia; o saudoso Monsters of Rock que tinha como terra natal a Inglaterra, mas ganhou acolhida em países como Brasil, Argentina, Itália e Canadá; a Alemanha também com o peso de festivais como Bang Your Head e o fenômeno Wacken Open Air que, hoje, é reconhecido como o maior festival de música pesada do mundo e, lógico, o genuíno orgulho brasileiro, o festival Rock in Rio, que no ano de 1985 marcou a história do Brasil e abriu os caminhos do país para os shows internacionais de grande porte.

Depois da estréia de sucesso, o Rock in Rio contou com mais duas edições no Brasil, em 1991 e 2001. Nos anos seguintes, o festival ganhou acolhida internacional, com Portugal e Espanha recebendo de braços abertos a ‘festa brasileira’. Mas como todo bom filho a casa retorna, o festival voltou para seu lugar de origem, e nos últimos meses de Setembro e Outubro garantiu o arrasta pé da melhor qualidade para o público brasileiro.

Rock in Rio

Com sete dias de festival distribuídos em duas semanas, a programação foi escalada para todos os gostos, indo do peso caótico de grupos como Slipknot e Metallica ao pop meloso e inofensivo de Kate Perry e Rihanna, passeando ainda pelo som alternativo de bandas como Coldplay chegando à chatisse sem igual de Claudia Leitte. Mas como não poderia ser diferente, cobrimos o dia do heavy metal (25/09) que fora representado pela vanguarda do estilo como Metallica, Sepultura e Motörhead e a moçada da nova geração representada por Slipknot, Coheed and Cambria e Gloria.

Jogando por terra a profecia da mídia pouco preparada, tampouco, informada, o dia do heavy metal foi tido como um dos mais calmos em todos os dias de festival. Até São Pedro ajudou ao colocar umas nuvenzinhas no céu para amenizar o calor, ou seja, era dia de celebração para os cem mil headbanger que visitaram a Cidade do Rock. A maratona de shows começou no Palco Sunset com a apresentação do grupo carioca, Matanza, que segurou bem as pontas com seu som que ora flerta hardcore, heavy metal e country. Korzus é figura carimbada do thrash metal nacional, a banda em seus quase trinta anos de atividade sabe como poucos se portar e agitar num palco.

O primeiro, porém, do dia veio com a apresentação da banda Angra que, infelizmente, estava muito aquém do alto padrão de qualidade que a banda sempre norteou sua carreira. Nem a presença da convidada especial, a cantora finlandesa Tarja Turunen, contribui para que salvasse algo da apresentação do grupo paulista. E por falar no assunto qualidade, o som do Palco Sunset estava bem próximo do pavoroso, o que prejudicou a apresentação de todas as bandas que passaram por lá. Ao mesmo tempo em que a banda brasileira de maior renome internacional, Sepultura, dava inicio à sua apresentação no palco secundário, o grupo Gloria começava também sua apresentação no Palco Mundo. Como a profissão nos obriga, tive que dividir atenção entre as duas bandas. A primeira, como sempre, sabe como poucos fazer um bom show, em contra partida, a banda Gloria é uma decepção do começo ao fim, e nem mesmo a presença do bom baterista, Eloy Casagrande, contribuiu para salvar a apresentação dos paulistas.

Coheed and Cambria até que é uma boa banda se for classificada como cover, mas como um grupo de som autoral peca pelas fracas composições. Os gringos não estão gabaritados em estar em nenhum palco principal de qualquer que seja o festival, nem mesmo em show de calouros. Lamentável! O negócio começou a ficar sério quando os mais rápidos e sujos do velho oeste: Motörhead pisaram no Palco Mundo destilando toda experiência de seus quase quarenta anos dedicados ao rock ‘n roll. Mesclando antigos e novos clássicos como Iron Fist, Aces of Spades, One Night Stand e Overkill, os britânicos são sinônimo de bom rock.

Slipknot foi a boa surpresa do dia com sua música para lá de caótica. Com o visual digno de um dia de halloween, a banda trouxe, sem meias palavras, o show mais brutal de todo festival. Impecável! Como dito anteriormente, o Metallica é vanguarda do metal, com isso, seu show é correto e dificilmente desagradará os fãs. A boa surpresa da noite foi a execução da canção “Orion”, do álbum Master of Puppets. A banda ainda relembrou clássicos como “Welcome Home (Sanitarium)”, “Blackned”, Fade to Black e Creeping Death. Uma grande apresentação, mas sem maiores surpresas e ou deslizes de seus integrantes.

Mesmo com os problemas de furtos, algumas escorregadelas na produção, trânsito, filas quilométricas, preços salgados, etc. O Rock in Rio foi sucesso e garantiu, em seus sete dias de duração, a alegria dos mais variados públicos. Que chegue o quanto antes a edição de 2013, porque estaremos lá com total certeza.

Nota: Fiz a matéria para o Jornal do Interior Sul Fluminense.http://digital.jornaldointerior.info/ed127/

sábado, 5 de novembro de 2011

WhiteJudas: Epitaph Tour (Rio de Janeiro)

No ano de 2005, os fãs brasileiros de música pesada ganharam um presentão que foi assistir dois dos principais nomes do estilo, Whitesnake e Judas Priest, dividindo o mesmo palco. Aquela turnê parecia algo único, e quem tivesse prestigiado aqueles shows tinha quase a sensação de ter acertado na loteria. O tempo passou e eis que as duas entidades roqueiras voltaram para mais uma bem-vinda dobradinha. Com Citybank Hall/RJ quase lotado, o Whitesnake defendeu o novo álbum, o bacana Forevermore, e o Judas Priest sua última turnê mundial.

A primeira etapa da noite foi de responsabilidade do Whitesnake com seu hard rock pra lá de energético. O dono da banda, o vocalista David Coverdale, sabe bem os ‘pontos fracos’ dos fãs, e sem dó alguma montou um repertório inteligente, valorizando os anos 1980, onde estão os grandes hits da banda. Temas como “Love Ain’t No Stranger”, “Is This Love”, “Still of the Night”, “Here I Go Again”, “Burn”, casaram bem com as novas “Steal Your Heart Away” e Love Will Set You Free. Não é segredo que o conteúdo lírico da banda se apóia na cafonice de estorinhas de corações partidos e amores incondicionais, mas é bem verdade que o hoje senhor Coverdale e Cia sabem como ninguém animar uma platéia. E como sabem.

O Judas Priest foi o encarregado de agitar a última etapa da noite com seu heavy metal clássico, sem brechas à baladas e ou músiquinhas calmas. Numa apresentação didática, onde o telão mostrava a capa do disco referente à canção e com o vocalista, Rob Halford, detalhando cada música, o repertório passou por grande parte do catálogo dos britânicos. Só “Rapid Fire”, “Metal Gods”, “Breaking the Law” e “Living After Midnight”, do album British Steel, já valeriam a noite. Mas a banda tinha mais armamento pesado no arsenal. “Painkiller”, “Eletric Eye”, “Victim of Changes”, “Hell Bent For Leather”, provaram o porquê de o Priest ser taxada por muitos fãs de umas das principais entidades do heavy metal.

A banda acertou também no ornamento do palco com telões, animações; labaredas de fogo; jatos de fumaça; troca de roupas; motocicleta no palco em certa parte do show e correntes por todo lado. A bolada nas costas ficou por conta da ausência do guitarrista, K. K. Downing, que numa crise existencial abandonou o barco, sendo substituído pelo competente Richie Faulkner. O rapaz cumpriu sua obrigação, mas é incontestável a falta de Downing nessa que será a última turnê mundial da banda.

O balanço da noite foi mais que positivo para ambas as bandas e para o público que saiu rindo a toa do Citybank Hall. Agora, não seria de todo mal uma terceira dose dessa turnê.

Nota: Fiz a matéria para o Jornal do Interior Sul Fluminense.